sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O instinto de felicidade

Texto de Rute Rodrigues Sobrinho

Uma das melhores lembranças da infância são os parques de diversão. Em frente a minha antiga casa existia uma praça com balanço, escorregador e roda, pintados nas cores verde, azul, vermelho e amarelo, com areia para amortecer a queda. Fui muito feliz nesses parquinhos, girar naquele brinquedo dava uma cócega na barriga que nos fazia rir desesperadamente.
Recentemente resolvi ir a um parque de diversão com meu irmão e minha sobrinha. Mesmo com os meus 33 anos não me acanhei em comprar um “passaporte da alegria”, aquele tipo de ingresso que dá direito a brincar quantas vezes quiser, ou melhor, quantas vezes conseguir ou agüentar.
Fui nos brinquedos mais tradicionais e em outros extremamente empolgantes e até desesperadores. Num desses em que reviram a gente por inteiro de cabeça pra baixo, chacoalham, torcem, eu fui para me desafiar e achei a adrenalina quase insuportável. Disposta a não mais brincar meu irmão me convenceu a ir de novo para me provar como essa sensação angustiante diminuiria e eu conseguiria pelo menos parar de gritar feito uma louca.
Um pouco rouca e descabelada, fui novamente e gritei um pouco mais baixo, abri os olhos só um pouquinho e consegui tocar na mão do meu irmão ao lado. Pouco tempo se passou, mas percebi que nada é tão insuportável depois que sobrevivemos pela primeira vez! Foi assim que desafiando a mim mesma fui pela terceira, quarta, quinta vez naquela loucura. Pense, na última vez estava olhando para o céu e para as luzes do prédio que pareciam de brinquedo, de tão pequeninas aos meus olhos. No fundo aquela emoção nunca passou, aquele frio na barriga nunca esquentou, mas pude conciliar a sensação infantil com a sensação adulta.
Costumo dizer em tom de brincadeira que a vida é como um grande jogo de videogame. Quando já estamos bem craques naquela fase e vencemos, partimos para outra mais difícil. As situações se repetem, mas à medida que avançamos um elemento novo é adicionado. São essas mesmas dificuldades que nos impulsionam a continuar, a querer vencer o jogo, é o instinto de felicidade. Não quero dizer instinto de sobrevivência porque este os animais irracionais também têm. O ser humano tem um diferencial, ele não quer só sobreviver, quer viver e quer viver feliz.
Atrevo-me a dizer que é o instinto de felicidade que nos faz avançar sempre, mesmo machucados, feridos, traumatizados, estropiados. O instinto nos diz: você nasceu para ser feliz, não desista nunca! Devemos correr atrás da nossa felicidade, e talvez o grande mérito seja seguir tentando ser feliz, sempre.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Diário da felicidade

Texto de Rute Rodrigues Sobrinho


Nossa vida é marcada por eventos e estes delimitam nossa história no tempo e espaço. Passamos a relacionar nossa idade com os acontecimentos, por exemplo, quando tinha quatro anos caí e fiquei com uma cicatriz; aos sete anos um tio querido morreu e conheci esta dor de perto; na adolescência tive um amor não correspondido, e etc.

Mas acho uma pena marcarmos os nossos eventos com as coisas tristes. Neste ano propus a mim mesma e agora proponho a vocês um diário da felicidade. Como assim?

Todos nós sabemos que o mesmo dia pode nos trazer alegria, tristeza, nostalgia, amor, paixão, ódio e muitas outras sensações. Quando colocamos nossa cabeça no travesseiro adivinha de qual nos lembramos? Podemos colocar no diário as coisas boas ou que nos trouxeram uma lição para tornar nossa vida melhor. Esse diário pode ser mental, não exatamente escrito. É aquela história de olhar o copo quase vazio ou quase cheio.

Num simples dia de trabalho, por exemplo, podemos conseguir concluir um relatório difícil e, mesmo tempo trabalhado muito, ficarem coisas a finalizar. Podemos optar por achar que fomos um fracasso, por deixar alguma coisa pendente, ou ficar feliz por ter concluído uma etapa.

Sabe aquela chuva na hora da saída do trabalho? Alguém vai se odiar por ter esquecido a sombrinha logo naquele dia! Esqueceu a sombrinha? Que bom que o colega trouxe e me emprestou! O colega não emprestou? Que bom que já estou indo pra casa! Está chegando ao trabalho e está todo molhado? Que bom que já sarei daquela gripe. E assim vai...

Bem, não é que vou brincar de ser feliz e fugir da realidade, mas tirar da vida aqueles aborrecimentos desnecessários. Só devem ficar aqueles que realmente não temos como fugir ou negar.

Quem se atreve a tentar comigo?

Caro Emerald - Back it up

domingo, 1 de janeiro de 2012