Uma das melhores lembranças da infância são os parques de diversão. Em frente a minha antiga casa existia uma praça com balanço, escorregador e roda, pintados nas cores verde, azul, vermelho e amarelo, com areia para amortecer a queda. Fui muito feliz nesses parquinhos, girar naquele brinquedo dava uma cócega na barriga que nos fazia rir desesperadamente.
Recentemente resolvi ir a um parque de diversão com meu irmão e minha sobrinha. Mesmo com os meus 33 anos não me acanhei em comprar um “passaporte da alegria”, aquele tipo de ingresso que dá direito a brincar quantas vezes quiser, ou melhor, quantas vezes conseguir ou agüentar.
Fui nos brinquedos mais tradicionais e em outros extremamente empolgantes e até desesperadores. Num desses em que reviram a gente por inteiro de cabeça pra baixo, chacoalham, torcem, eu fui para me desafiar e achei a adrenalina quase insuportável. Disposta a não mais brincar meu irmão me convenceu a ir de novo para me provar como essa sensação angustiante diminuiria e eu conseguiria pelo menos parar de gritar feito uma louca.
Um pouco rouca e descabelada, fui novamente e gritei um pouco mais baixo, abri os olhos só um pouquinho e consegui tocar na mão do meu irmão ao lado. Pouco tempo se passou, mas percebi que nada é tão insuportável depois que sobrevivemos pela primeira vez! Foi assim que desafiando a mim mesma fui pela terceira, quarta, quinta vez naquela loucura. Pense, na última vez estava olhando para o céu e para as luzes do prédio que pareciam de brinquedo, de tão pequeninas aos meus olhos. No fundo aquela emoção nunca passou, aquele frio na barriga nunca esquentou, mas pude conciliar a sensação infantil com a sensação adulta.
Costumo dizer em tom de brincadeira que a vida é como um grande jogo de videogame. Quando já estamos bem craques naquela fase e vencemos, partimos para outra mais difícil. As situações se repetem, mas à medida que avançamos um elemento novo é adicionado. São essas mesmas dificuldades que nos impulsionam a continuar, a querer vencer o jogo, é o instinto de felicidade. Não quero dizer instinto de sobrevivência porque este os animais irracionais também têm. O ser humano tem um diferencial, ele não quer só sobreviver, quer viver e quer viver feliz.
Atrevo-me a dizer que é o instinto de felicidade que nos faz avançar sempre, mesmo machucados, feridos, traumatizados, estropiados. O instinto nos diz: você nasceu para ser feliz, não desista nunca! Devemos correr atrás da nossa felicidade, e talvez o grande mérito seja seguir tentando ser feliz, sempre.