Os pais que me desculpem, mas Deus
colocou um encantamento diferente nas mães. Acho que Ele queria dar uma amostra
grátis do seu amor e colocou esse grande sentimento nesses coraçõezinhos que só
vivem apertados.
Minha mãe certa vez voltou para casa
muito desenganada com um diagnóstico médico. Mas a tristeza só durou um dia,
porque no outro ela era atitude pura. Começou indo ao mercado comprar muitos
legumes e frutas e iniciou uma caminhada diária. Ela começou devagar, mas depois
caminhava todos os dias, todas as manhãs, depois já eram duas vezes, caminhava
de manhã e à tarde. E sempre que íamos a algum lugar de carro ela dava uma
desculpa para descer e ir caminhando novamente.
Ela andou muito, com vontade, correu
do medo, da pobreza, da tristeza, da ingratidão, das dúvidas, das doenças. Em
compensação correu para encontrar a liberdade, o amor, a auto-estima, a
felicidade.
Dizem que eu me pareço bastante com
ela. Quem me dera! Parecer com alguém que é garra pura, que passa alegria mesmo
estando triste, que incentiva os outros quando o desânimo sobrevém sobre ela.
Que todos estejam certos, porque sei que não vou parar de correr atrás dos meus
objetivos nunca.
Quando estudávamos minha mãe ainda
não havia terminado o 2º grau, mas para nos ensinar estudava todas as matérias:
matemática, ciências, geografia, história. Várias vezes eu vi minha mãe
estudando em nossos livros. Ela brincava que quando recebêssemos o certificado
ela teria que receber um também. Com isso ficou mais descolada ainda,
conversando sobre tudo e querendo cada vez mais. Voltou a estudar, terminou o
ensino médio, fez o curso de magistério, curso de informática, curso de inglês,
até chegou a começar uma faculdade de filosofia, mas parou alguns semestres
depois. Mas disse pra gente que era só pra termos certeza de que se ela quisesse
alguma coisa, conseguiria.
Ainda hoje ela continuar a andar, mas
só com o pensamento. Os problemas cardíacos graves que a cometem não permitem
essa estripulia. Mas apesar de toda sua boa vontade, acho mesmo que o mundo tem
certas limitações, não temos aqui a nossa laranja inteira. Temos meias-verdades,
vemos um só ângulo da paisagem, conseguimos apenas uma felicidade meia boca.
Tenho certeza que um dia ela vai encontrar toda sua laranja, descascadinha e
doce, num outro plano. Mas nesse dia, eu é que serei a pessoa mais infeliz do
mundo, mesmo sabendo que essa dor não durará para sempre...