segunda-feira, 21 de maio de 2012

Meu tesouro!

Texto de Rute Rodrigues Sobrinho

Os pais que me desculpem, mas Deus colocou um encantamento diferente nas mães. Acho que Ele queria dar uma amostra grátis do seu amor e colocou esse grande sentimento nesses coraçõezinhos que só vivem apertados.
Minha mãe certa vez voltou para casa muito desenganada com um diagnóstico médico. Mas a tristeza só durou um dia, porque no outro ela era atitude pura. Começou indo ao mercado comprar muitos legumes e frutas e iniciou uma caminhada diária. Ela começou devagar, mas depois caminhava todos os dias, todas as manhãs, depois já eram duas vezes, caminhava de manhã e à tarde. E sempre que íamos a algum lugar de carro ela dava uma desculpa para descer e ir caminhando novamente.
Ela andou muito, com vontade, correu do medo, da pobreza, da tristeza, da ingratidão, das dúvidas, das doenças. Em compensação correu para encontrar a liberdade, o amor, a auto-estima, a felicidade.
Dizem que eu me pareço bastante com ela. Quem me dera! Parecer com alguém que é garra pura, que passa alegria mesmo estando triste, que incentiva os outros quando o desânimo sobrevém sobre ela. Que todos estejam certos, porque sei que não vou parar de correr atrás dos meus objetivos nunca.
Quando estudávamos minha mãe ainda não havia terminado o 2º grau, mas para nos ensinar estudava todas as matérias: matemática, ciências, geografia, história. Várias vezes eu vi minha mãe estudando em nossos livros. Ela brincava que quando recebêssemos o certificado ela teria que receber um também. Com isso ficou mais descolada ainda, conversando sobre tudo e querendo cada vez mais. Voltou a estudar, terminou o ensino médio, fez o curso de magistério, curso de informática, curso de inglês, até chegou a começar uma faculdade de filosofia, mas parou alguns semestres depois. Mas disse pra gente que era só pra termos certeza de que se ela quisesse alguma coisa, conseguiria.
Ainda hoje ela continuar a andar, mas só com o pensamento. Os problemas cardíacos graves que a cometem não permitem essa estripulia. Mas apesar de toda sua boa vontade, acho mesmo que o mundo tem certas limitações, não temos aqui a nossa laranja inteira. Temos meias-verdades, vemos um só ângulo da paisagem, conseguimos apenas uma felicidade meia boca. Tenho certeza que um dia ela vai encontrar toda sua laranja, descascadinha e doce, num outro plano. Mas nesse dia, eu é que serei a pessoa mais infeliz do mundo, mesmo sabendo que essa dor não durará para sempre...


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