sábado, 8 de junho de 2013

Vida de pombo

Texto de Rute Rodrigues Sobrinho

Outro dia no percurso da minha caminhada vi vários pombos ciscando no local aonde mais tarde chegariam carros trazendo marmitas para os transeuntes ferente com aqueles animais, eles mal conseguiam andar, estavam muito gordos, pareciam que tinham aprendido a andar com os patos. 

Observei que o atual habitat deles era ao redor de barracas de comida, aonde o alimento vinha fácil e o dia inteiro, sem interrupção. 

A maioria deles não voava mais, eram quase do tamanho de uma galinha (com exagero e tudo).

Além de não deixar de pensar no monte de doenças que eles poderiam transmitir, pensei também como a natureza é sábia. Ela nos oferece exatamente aquilo que podemos digerir, seja física ou emocionalmente. 

Quando vezes nos deparamos com algumas perguntas ou lamentações que nos fazemos internamente? - Por que não consigo alcançar os meus objetivos rapidamente? Por que fulano, que é mais novo do que eu já conseguiu aquela promoção e eu ainda não? Se eu tivesse alguém para me dar um empurrãozinho... Queria ter um padrinho como cicrano e logo estaria ganhando mais...

Não creio que a vida seja tão desorganizada assim. Ela segue um fluxo, uma lógica. Os coitados dos pombos estavam daquele jeito porque o caminho natural deles seria gastar energia, procurar comida, voar um pouco, ver a natureza de outra forma. Essa nova perspectiva trouxe a eles prejuízos, engordaram muito, andavam devagar, não conseguiam se defender dos predadores. Mas para eles apenas o instinto de sobrevivência era importante.

Mas nós humanos estamos além dos instintos, já somos animais racionais, podemos fazer escolhas e escolhas inteligentes. 

Outro dia ouvi uma entrevista na televisão com um delegado que falava sobre crimes cometidos por estelionatários. A primeira dica que ele deu para se reconhecer um golpe foi: desconfie de tudo que vem fácil e sem esforço; provavelmente há algo errado e ilegal. 

Nada vem de graça e sem esforço. A vida não é uma bagunça, embora por instantes, ou mesmo anos, pareça ser.

Não faz parte da lógica conseguir atingir metas sem esforço, disciplina e perseverança. Quando alguém consegue algo assim, de mão beijada, na verdade está tendo um enorme prejuízo a longo prazo. Estamos com a comida na mão, mas não conseguimos nos defender corretamente, porque isso se aprende com o tempo; não fazemos escolhas inteligentes por falta de maturidade emocional; andamos devagar e em círculos; e, o pior de tudo, não conseguimos voar. 

Ainda sob outro ângulo podemos pensar que essa comida fácil obtida diariamente pode ser aquilo que seguimos sem questionar, é a mentalidade fast food. Todo mundo acredita, então deve ser verdade, se todo mundo fala mal também falamos, se fala bem seguimos novamente. Quem discorda é visto, muitas vezes, com maus olhos. Não questionamos. Seguimos. Parece mais fácil. Mas infelizmente com essa atitude deixamos de gastar muita energia, de nos tornarmos mais leves, de criarmos nosso próprio caminho, de voarmos muito alto... 

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