By Rute Sobrinho
Ninguém entendia como aquela moça de
vinte e cinco anos ainda não havia aprendido códigos básicos para um convívio em
sociedade. Não sei como é que alguém nasce com tamanho defeito de personalidade
e se cria - dizia sua avó.
Em determinada época seus pais
chegaram a propor um tratamento de “adequação social” para que ela não fosse tão
inconveniente nos jantares e encontros. Imagine só a cara dos pais,
desgostosos... Afinal, foram anos investidos em boas escolas, faculdades, aulas
de etiqueta, pra nada. Mas depois desistiram, tinham medo de piorar a situação e
perder seu tesouro mais precioso.
Ela não havia aprendido, por exemplo,
a concordar com os outros só pra agradar. Como sempre foi muito educada, sabia
respeitar, mas nunca se furtava em dizer qual o seu ponto de vista. Esperava que
existisse consideração mútua e sentia-se ofendida com as palavras contundentes e
afiadas de que era vítima.
As coisas ficavam ainda piores quando
expressamente lhe pediam a opinião. Ela definitivamente não conseguia entender
que as pessoas já possuíam uma avaliação clara sobre o assunto e só queriam uma
aprovação. Mas ela, com esse problema seriíssimo, era desprovida dessa
percepção. E logo começava a explanar sobre os prós e contras e sua visão sobre
o assunto, alertando, ainda, dos perigos da tomada de algumas decisões. Mas
depois via a decepção estampada no rosto do ouvinte e ela não entendia por
quê...
Não aprendeu a se fazer de coitada
diante das negativas da vida ou quando seus planos eram frustrados. Ao invés
disso, pensava em como traçar outra rota. Mas em sendo assim tão positiva com a
vida, faltava-lhe o afeto comumente dispensado aos que sofrem. Ela não era digna
de pena, todos a tinham por metida e insuportavelmente
autossuficiente.
Já os pais viam-na com outras lentes,
coloridas e suaves. Entendiam que ela era um vaso de cristal, podia-se ver tudo
que estava dentro, mas também era frágil.
E o mais grave, não desistiu de
acreditar no amor sincero, mesmo sabendo que ele era caro e raro para os seus
parcos recursos. Via muitos gabarem-se de viver um grande amor, mas tudo não
passava de conveniências e costume, e isso ela via claramente, não adiantava
dissimular. Mesmo com os contratempos, ela não queria um bem querer assim não,
queria-o de verdade e intenso. Tinha uma força e uma certeza contrastantes com
sua delicadeza de alma. Iria até o fim, com a sua teimosia importuna.