terça-feira, 12 de novembro de 2013

A voz insistente

By Rute Sobrinho


 

 
 
 
Gloria e Ana eram duas adolescentes amigas que estavam sempre juntas. Certa vez resolveram ir a uma cidadezinha no interior de Minas Gerais. Passaram por lá uma semana. Ao escutarem que um caminhoneiro estaria voltando para a cidade em que elas moravam, resolveram pedir carona na boléia do veículo para economizar o pouco dinheiro que seus pais haviam dado. Ficou combinado que o caminhoneiro, conhecido da família onde elas se hospedaram, iria pegá-las no dia seguinte cedo.
No momento combinado, apareceu o motorista e mais um colega dele, que também resolveu pegar a carona. No entanto, a situação ficou constrangera e estranha, porque ele não tinha comentado com ninguém a respeito daquela outra pessoa e, no mais, uma viagem de oito horas com quatro pessoas na frente do caminhão seria bem cansativa e apertada.
Gloria sentiu um aperto no peito e algo dizia para ela não ir. Mas a situação estava difícil, todos estavam na porta para se despedirem e como explicar uma mudança tão repentina de planos assim? Afinal, o moço foi tão gentil e prestativo... No mais, seria uma ofensa para as mulheres dos rapazes que, por sinal, não gostaram nada da novidade. Todos eram conhecidos, a situação era bem delicada.
Gloria teve aquela sensação de novo, elas entreolhando-se com desespero e cumplicidade, e subiram no caminhão.
Agora não havia mais jeito, pensava Gloria, era esperar o pior... Os dois as olhavam com lascívia e a viagem prometia muitos dissabores.
As duas estavam ali com o coração apertado, fazendo preces em silêncio. De repente, o caminhão parou na saída da cidade e eles desceram para comprar algo numa pequena mercearia.
Gloria sentiu uma sensação forte, como se alguém dentro dela gritasse firmemente:
- Saiam agora! Essa é a oportunidade!
Gloria não titubeou, puxou a amiga, e as duas correram em direção à cidade.
Ouviram as vozes dos rapazes:
- O que aconteceu? Por que vocês vão voltar?
- Resolvemos ficar mais um pouco. Obrigada pela carona. –Disseram elas.
Andaram mais de uma hora até chegarem ao local de origem, mas estavam contentes, cientes de que haviam se livrado da maior enrascada, ou emboscada, de suas vidas.
Gloria passou a prestar mais atenção nesta sensação de aperto no peito, nesta “voz interior” que até então ela não conseguia identificar, mas que agora sabia tratar-se da uma proteção divina, uma forma que Deus usava para se comunicar com seus filhos.