
Vivian olhou tudo ao redor. Conferiu
os frutos, olhou todos os pés cuidadosamente. Receou fazer a opção errada
novamente...
Da primeira vez que ela escolheu um
fruto para saborear e para que ele fosse seu, escolheu rapidamente, a fruta
deu-lhe água na boca. Mas não sabia até então que o fruto, depois de saboreado,
passava a fazer parte dela. Pensou ingenuamente que nada lhe aconteceria. “Deus”
não poderia ser injusto assim. Ele sabia que eu tinha andado muitos dias até
aqui apenas com uma garrafa de água, pensou ela.
Ficou um bom tempo mal do estômago
pelo que comeu. Traumatizada, demorou voltar a desejar outra fruta. Quando o
fez, foi ao pomar, certa de que já aprendera a fazer escolhas corretas. Dentre
tantas frutas com tantas características boas, escolheu a mais bonita, com um
tom alaranjado encantador. Mas essa estava podre por dentro. A bela casca
escondia muito bem seus odores e gosto azedo. De novo, pensou ela. Vou conviver
com esse azedume em minha vida por um longo período. O gosto amargo não me sairá
da boca tão cedo...
Desta última vez, no entanto, queria
entender o processo de escolha. Qual o motivo de errar tanto. Saiu em busca de
um entendimento maior. Como ouvira falar do oráculo, quis vê-lo. Mas onde
procurar? Quem era afinal? Começou indo às montanhas mais geladas, o barulho do
vento uivava em seus ouvidos e nenhuma resposta houve. Decidiu ir a uma floresta
tropical, com fauna e flora variadas. Nada. Seria no deserto? Sofreu no clima
seco, areia no rosto, Sol escaldante e nada também.
Chegou a sua casa um tanto quanto
decepcionada. Seria tão impossível querer uma orientação? Comeu alguma coisa,
tomou um banho e dormiu profundamente. No outro dia acordou com um belo sorriso
no rosto. Tinha a resposta que queria.
Enquanto seguia para o pomar do
comprometimento, pensou em como as coisas eram mais simples do que pensava. O
oráculo estava todo tempo com ela, mas na ânsia de encontra-lo fora de si,
deixou de perceber a mensagem de suas próprias reflexões, mesmo que
inconscientes.
Ao chegar à plantação resolveu não
acreditar no seu sentido mais falho: a visão. Olhou rapidamente apenas para se
localizar e fechou os olhos. Apalpou e cheirou todas as frutas. Pensou em como
seria quando elas fizessem parte do seu mundo. Passou a dar importância às
sensações sentidas: repugnância, paz, confiança, indiferença, aflição,
desconfiança. Escolheu uma linda fruta, como a maioria das outras. Mas com uma
diferença, conseguiria conviver com os fluidos vitais daquela fruta até o fim
dos seus dias, e ainda ficar saciada e feliz.
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