Almir já tinha seus 36 anos, esposa e cinco filhos quando passou em um concurso público. Até então só tinha tido empregos temporários, muito trabalho e pouco dinheiro para sobreviver na cidade grande.
Era seu primeiro dia naquela jornada e o ônibus funcional vinha buscá-lo na porta. Imagina só, um ônibus só para o pessoal do trabalho! Vibravam os filhos.
Ele estava todo arrumado, de cabelo cortado, de barba feita, usando blusa, calças sociais, óculos e um sapato novo comprado especialmente para aquele dia.
Toda a família estava na porta olhando. O pai saiu radiante, sorrindo e correu para sua liberdade. Quando deu o último tchau, passando pela frente do ônibus e indo em direção a porta lateral, escorregou e caiu.
Escutou em coro um ohhhhhhh! Segundos de tensão e silêncio da família, do motorista, dos futuros colegas.
Ele levantou-se do chão, foi apoiado pelos futuros colegas de viagem, e retornou a casa para trocar a blusa que rasgou e para desempenar os óculos amassados.
No chão ficou um fio de sangue, mas isso não intimou Almir. Parece que as gotas do líquido vermelho encerravam uma fase que não mais voltaria, e isso o deixava muito orgulhoso. A cena de um homem sofrido erguendo-se do chão, sem baixar a cabeça, sem desistir de ir trabalhar naquele dia, mostrou porque ele havia conseguido chegar até ali.
Limpou-se, entrou no ônibus, acenou da janela e foi trabalhar feliz. Sem dizer uma palavra mostrou, mais uma vez, sua garra de vencedor.
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