quarta-feira, 4 de julho de 2012

Lua cheia

Texto de Rute Rodrigues Sobrinho


Há exatos trinta e quatro anos eu nasci. Meus pais já tinham dois meninos e uma terceira gravidez da minha mãe fez com que a torcida fosse por uma menina.

Meu pai conta que minha mãe precisava ir pra outra cidade onde o hospital era mais bem aparelhado para fazer os partos. Lá ela ficava hospedada na casa de amigos e sempre reclamava de ficar longe do meu pai nesses momentos de tanta fragilidade.

No outro dia quando ela voltou comigo no colo a ansiedade do meu pai era enorme, ele ainda não sabia o sexo do bebê. Minha mãe falou:

- Nasceu a sua Rutinha. Tem rostinho de lua cheia!

Meu pai disse que eu era linda. Imagina só. Os pais nos acham lindos sempre... Disse que eu parecia uma lua cheia, de tão fofinha e gordinha. Ele sempre conta essa mesma história, com o mesmo interesse e eu ouço toda vez me sentindo boba toda vida...

Fiquei a pensar outro dia que essa comparação com uma lua cheia me remete a várias coisas, não apenas a uma criança rechonchuda ou uma adulta gordinha, mas a idéia de uma pessoa que não é vazia. Sou cheia de idéias, de amores, de vida, de sorrisos, de choros, de sapatos, de encantamentos, de interesses, de amigos, de dúvidas, de questionamentos, de irmãos, de maquiagens... Ah, o balaio é tão cheio que há coisas nele que nem consigo distinguir, ainda. 

Mas não pense que sou óbvia assim, sou uma lua completa, com as quatro fases. Sou também lua nova, gosto de experimentar, inovar, conhecer gente diferente, pesquisar sites inusitados, ouvir músicas pouco comuns, ver tipos esquisitos, não me conformo com o "sempre foi assim".

E a lua crescente? Ah, essa serei toda vida... O conhecimento é ilimitado, crescemos do dia em que nascemos ao dia em que morremos. E para aqueles que acreditam, continuamos crescendo e aprendendo mesmo depois da morte. Quando a gente cresce num aspecto temos certezas que nos acalmam, em contrapartida começamos de novo a lua cheia de emoções e questionamentos. 

Também sou gente como todo mundo e tenho minha fase minguante. Não gosto muito dela, mas às vezes é preciso pra completar um ciclo produtivo. Confesso que um recolhimento é fundamental para colocar as coisas em ordem, absorver e entender as novidades.

A vida se faz de um ciclo lindo, coerente e constante. Observo-me sempre para não parar numa fase conveniente ou mórbida e ficar esperando a vida passar sem que eu seja sujeito ativo dela. Quero participar de tudo e arcar com as minhas escolhas. Quero ser mais que uma lua cheia, quero ser Lua, com todas as suas fases, beleza e mistério. 

Um comentário:

  1. Tenho acompanhado seus textos e me identificado. Na verdade quem me indicou saberia que gostaria... Parabéns por escrever assim "mostrando a cara" textos simples, mas com a sua profundidade, de quem não tem medo do viver, encara a vida de peito aberto, ora lua cheia, ora minguante, mas na certeza que felicidade é uma escolha. G.H.

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