Solidão é um poderoso vírus que está latente em todo ser humano. Alguns se dizem imunes a ele ou possuem estrutura emocional suficiente para sobreviver com pequenas sequelas. Quem não tem a mesma sorte, geralmente os mais sensíveis, ou se entregam à clausura interna, ou lutam a vida inteira.
O cantor Alceu Valença diz numa música que "solidão é fera, solidão devora". Sei não, acho que solidão não é fera que devora a presa, é um verme que mastiga a vítima sem nunca matá-la. Ela é desconfortável, é como estar molhada num dia de rigoroso inverno. Solidão é uma eterna segunda-feira, é como comemorar a vitória numa final de copa do mundo num estádio vazio.
Solidão não se confunde com depressão. Todo deprimido sente solidão, mas nem sempre quem sente solidão é deprimido. Solidão é aquele vazio na alma que exige cuidado constante. É olhando para ele que nos questionamos e não aceitamos respostas prontas. Há pessoas, no entanto, que fazem disso um buraco negro, sem fim e sem respostas.
Este sentimento também não é desilusão, como na música de Marisa Monte: "Desilusão, desilusão. Danço eu dança você. Na dança da solidão". Solidão é independente de uma decepção amorosa, é algo genuíno que nasce na alma para procurar uma resposta para a vida.
Solidão não é uma pedra no sapato, é um escorpião dentro das calças. É um vazio que não se preenche, é uma sede que nunca se mata. É como tentar atravessar o mar com uma âncora nos pés, é andar com o freio de mão puxado.
Li numa placa outro dia que "Só há verdadeira solidão onde falta Deus". Mas e se Deus houver criado a solidão exatamente para que os seres humanos buscassem o divino?
Creio que esta sensação de vazio foi um dos mecanismos usados pela providência divina para alertar que existe mais do que imaginamos. Ouso dizer que uma das causas da depressão é seguir adiante achando que se pode simplesmente voar por cima dessas indagações da alma e que vai ficar tudo bem. A ponte para passar por cima delas é feita de compreensão para consigo mesmo, auto-estima e autoconhecimento.
Às vezes observo alguns encherem o peito e dizerem que solidão não existe porque vivem rodeados de amigos e familiares. Isso é porque não fecharam a porta do seu eu e ficaram no escuro consigo mesmos. Quem não tempo ou não quer refletir preencherá sua vida com as mais diversas coisas e ocupações.
Pois bem, sou feliz e às vezes sinto solidão, e não acho que estes dois sentimentos sejam contraditórios ou incompatíveis. Quando meu subconsciente procura respostas de perguntas que ainda não chegaram ao consciente é um desconforto só, um aperto no peito, e alma quer ficar sozinha para refletir. Ficar um tempo em silêncio no quarto escuro do meu eu ajuda a clarear as idéias e volto a abrir a porta para um dia ensolarado. É assim que vou desatando os nós e seguindo nesta estrada que é construída dia a dia.
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