
Por conta disso, resolveram se proteger desses sentimentos que traziam mais mal do que bem, segundo a ótica deles. Vestiam-se diuturnamente com cápsulas protetoras que impediam a entrada de qualquer sentimento. Decidiam tudo na base da razão e do raciocínio.
Passaram a não mais sofrer, a não mais sentir, a não mais amar, a não mais viver. Acordavam, comiam, sorriam. Tudo no piloto automático dos instintos.
Chegou determinada época em ninguém mais sabia como era sentir coisa alguma, pois a nova geração foi totalmente criada dentro das cápsulas. No entanto, sempre há revolucionários pelos mundos afora. Lá não era diferente, e começou-se um burburinho para questionar os que não aceitavam a imposição da massa.
Alguns universitários rebeldes começaram a se reunir e filosofar acercar dos benefícios e males das cápsulas. Queriam saber a origem daquilo tudo, quando havia começado, quem determinara isso e por que tinham que sofrer as conseqüências das opções dos outros.
Todas as noites eles se encontravam num subsolo escondido e saíam das cápsulas para experimentarem novas sensações. E que sensações... A cada noite eles eram humanizados com toda sorte de sentimentos que eclodia numa velocidade assustadora, como se quisessem recuperar o tempo perdido.
A partir desses encontros surgiram interesses, amores, discussões, raiva, ciúme. O medo tomou conta deles, afinal como equilibrar todas aquelas forças que surgiam de uma hora para outra?
Logo começaram a notar diferenças neles próprios, o rosto ficava mais rosado com algumas palavras, sorriam mais abertamente e reagiam mais naturalmente às situações.
Depois da quebra de paradigmas da turma dos revolucionários sem cápsulas, cada qual passou a gerir sua vida escolhendo se isolar na cápsula ou não.
Os que optaram por permanecer no isolamento passional, diziam que o medo de sentir algo desagradável era maior do que a esperança de sentir algo bom. Preferiam permanecer como estavam.
Os destemidos revolucionários bradavam aos quatro cantos que preferiam o sofrimento a dor de nada sentir; preferiam a decepção a nunca experimentar o amor; preferiam o ciúme à indiferença; preferiam a raiva à apatia. Dentro das cápsulas eles teriam uma vida óbvia e certa, fora delas podiam escolher o destino, aprender a controlar os sentimentos, e, verdadeiramente, viver.
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