sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Quem sabotou o meu pão?
Texto de Rute Rodrigues Sobrinho
José, pai de família dedicado e exigente, foi até a padaria comprar pão, já que achava que nenhum dos filhos conseguiria escolher o alimento melhor do que ele. Voltou para casa todo empolgado, o pão estava quentinho, tinha acabado de sair do forno, e o café que a mulher acabara de fazer estava fumegando.

Comentou com os filhos como foi bom ter ido à padaria, que eles provavelmente não seriam tão criteriosos como ele. Disse que a padaria estava muito limpa, porque ele fez questão de ir até a cozinha verificar.
A mãe colocou a mesa como fazia sempre, mesmo que o lanche fosse um simples biscoito. Ela tinha uma nobreza na alma.
O pai, a mãe e os três filhos sentaram-se à mesa e cada um colocou manteiga no pão quentinho que chegava a derreter e escorrer umedecendo ainda mais o alimento.
De repente, o pai deu um grito de desespero, dor, indignação talvez. Dentro do seu pão havia um dente. Isso mesmo. Um dente humano. Que nojento! Eca!!!
O clima mudou completamente, pois agora o pai estava vermelho de raiva, de indignação de uma padaria tão nojenta, sem higiene, que o deixou tão constrangido. Além do mais iria processar aquela empresa, isso devia dar uma boa grana. Afinal de contas ele não podia ficar se sentindo tão mal assim sem uma reparação.
Os filhos pararam de comer também, ficaram com receio do que mais poderia sair dali!
José decidiu ir à padaria tirar satisfação do acontecido. Colocou um terno velho por cima da camisa surrada, calçou os sapatos empoeirados e estava com o pão e o dente na mão para provar o fato.
O filho menor, que observava muito e entendia pouco, começou a reparar na voz do pai, parecia que estava faltando algo... Continuou a olhar a e dar um sorriso de canto de boca. O pai que era apaixonado pelo caçula não resistiu àquele olhar sapeca e sorriu para ele. Aí a gargalhada foi geral. O pai estava banguela, faltava-lhe um dente, certamente aquele que estava dentro de um pão!
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
Todo dia é Natal!
Texto de Rute Rodrigues Sobrinho
Caroline passou todo o ano ao lado da família. Abraçou e beijou muito os seus queridos a cada encontro, a cada almoço. Nunca tinha passado um Natal longe deles. Neste ano, ela que agora se sentia tão adulta, tão independente, resolveu passar o fim de ano na casa de uns amigos em Santos. Arrumou a mala, colocou as melhores roupas, perfumes caros, uma maquiagem para realçar as bochechas rosadas e foi embora.
No caminho já sentiu aquele aperto no peito. Será que eu não deveria ter deixado para vir depois da festa de Natal? Deixa de bobagem, Caroline, você já é uma mulher e não deve mais sentir esses resquícios de uma adolescente insegura e boba.
Quando chegou a casa dos amigos foi recebida muito bem, mas notou que lá não havia o calor humano do seu lar, calor este propício à fecundação de muitos sentimentos bons.
Na noite de Natal a comida estava quente, as estavam pessoas frias e Caroline estava morna. Essa mistura embrulhou-lhe o estômago e sentiu-se enjoada a noite toda. Imagino que foi a noite mais longa de sua vida, cada hora deve ter durado uns 103 minutos. Durante a festa só pensava em como foi boba em achar que poderia ser mais feliz do que já era. Queria um Natal emocionante, enquanto o Natal de sua casa era tranqüilo e tinha paz.
Acho que talvez ela estivesse incomodada com tanta tranqüilidade, talvez achasse que a felicidade é tão impetuosa como a paixão, como o desatino. Mas não é. O amor traz paz e tranqüilidade. Às vezes beira a monotonia, mas traz sempre segurança e uma alegria adulta.
A verdade é que Caroline havia tido 364 natais em casa e não tinha percebido até então. Um dia somente não consegue trazer a felicidade se o ano todo foi de tristeza. Plantar a felicidade um pouco a cada dia é que faz o Natal ser repleto de felicidades e realizações.
Na verdade, ela desfrutou a alegria do Natal o ano inteiro menos no dia 25 de dezembro. Ficou triste como nunca e queria desaparecer daquele lugar de clima tão úmido e de almas tão secas.
Ao retornar para casa abraçou a todos ternamente, certa de que jamais faria aquilo novamente. E o mais importante, ela começou a construir o próximo natal já no dia 26 de dezembro!
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
As cobras voadoras
Texto de Rute Rodrigues Sobrinho
O mundo das três camadas era habitado por pássaros cantadores, cobras voadoras e humanos rastejantes.

A camada mais alta, com o céu claro, ar puro, era habitada por lindos pássaros cantadores, que pareciam desconhecer a realidade assustadora que ficava logo abaixo. A atmosfera ali era agradável e leve.
A reptilfera era a camada intermediária, onde viviam as cobras voadoras. Ali o ambiente era muito pesado e a atmosfera densa. Mas nem sempre foi assim. As cobras passaram a ter asas pelo ambiente propício deixado pelos homens. Estes, quando habitavam esta camada, começaram a abusar de atos injustos, covardes, insanos. Isso fez com que o ar ficasse muito insuportável, obrigando-os a viver na última camada. Por sua vez, as cobras que estavam no solo perceberam a fraqueza humana e adoravam instigar as situações constrangedoras para, mais rápido, subirem de posto.
Foi assim que houve a inversão das camadas.
A terceira camada era a dos homens rastejantes. A segunda camada ficava bem próxima do chão e devido ao ar asfixiante, os humanos preferiam se rastejar. Apenas alguns acostumados com essa atmosfera se atreviam a andar de pé. Muitas vezes os homens reclamavam por estarem rastejando e verem tantas cobras voando. Achavam aquilo injusto.
Um dia um dos pássaros cantadores, vendo que os homens não sabiam como sair daquela situação resolveu descer até eles. Alguns recomendaram que ele não fizesse aquilo, porque seria muito dolorido e talvez até lhe causasse a morte. Mas ele preferiu seguir seu coração e desceu, tendo que respirar aquele ar poluído e sentir suas penas voando para longe.
Chegou a terra muito machucado e disse para os homens tudo o que ele podia ver lá de cima e como as cobras chegaram até a segunda camada. Disse também que a única forma das cobras descerem seria tornando o ar insuportável para elas.
- Mas como vamos fazer isso? Perguntaram.
-Vocês terão que mudar suas atitudes mais íntimas, fazer o bem sem esperar retorno e pedir ao grande pai do universo que os proteja.
-Mas é só isso? Disseram uns.
- Parece pouco, mas é tudo - disse o pássaro.
Depois de dada a mensagem o pobrezinho não agüentou o esforço que fez na viagem e morreu.
Muitos homens iniciaram uma batalha silenciosa. Aos poucos, no entanto, o resultado apareceu. O céu estava mais límpido, os homens conseguiam ficar em pé e as cobras mais fracas começaram a cair e rastejar novamente.
Vendo que o plano estava dando certo, as cobras começaram novas investidas contra os humanos, instigando o ciúme, o ego, o orgulho para conseguirem manter-se no alto.
Mas os homens já não eram os mesmos, já tinham o conhecimento da verdade e se firmaram no propósito até que todos estivessem de pé e as cobras rastejando.
Antes de o pássaro morrer, no entanto, ele fez uma alerta:
- Sei que vocês conseguirão reverter a situação de calamidade que este mundo se encontra, mas não se esqueçam que a luta será difícil e longa, exigindo de vocês um crescimento moral diário e constante. Caso contrário, as cobras voltarão a voar...
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