segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

As cobras voadoras

Texto de Rute Rodrigues Sobrinho

O mundo das três camadas era habitado por pássaros cantadores, cobras voadoras e humanos rastejantes.
A camada mais alta, com o céu claro, ar puro, era habitada por lindos pássaros cantadores, que pareciam desconhecer a realidade assustadora que ficava logo abaixo. A atmosfera ali era agradável e leve.
A reptilfera era a camada intermediária, onde viviam as cobras voadoras. Ali o ambiente era muito pesado e a atmosfera densa. Mas nem sempre foi assim. As cobras passaram a ter asas pelo ambiente propício deixado pelos homens. Estes, quando habitavam esta camada, começaram a abusar de atos injustos, covardes, insanos. Isso fez com que o ar ficasse muito insuportável, obrigando-os a viver na última camada. Por sua vez, as cobras que estavam no solo perceberam a fraqueza humana e adoravam instigar as situações constrangedoras para, mais rápido, subirem de posto.
Foi assim que houve a inversão das camadas.
A terceira camada era a dos homens rastejantes. A segunda camada ficava bem próxima do chão e devido ao ar asfixiante, os humanos preferiam se rastejar. Apenas alguns acostumados com essa atmosfera se atreviam a andar de pé. Muitas vezes os homens reclamavam por estarem rastejando e verem tantas cobras voando. Achavam aquilo injusto.
Um dia um dos pássaros cantadores, vendo que os homens não sabiam como sair daquela situação resolveu descer até eles. Alguns recomendaram que ele não fizesse aquilo, porque seria muito dolorido e talvez até lhe causasse a morte. Mas ele preferiu seguir seu coração e desceu, tendo que respirar aquele ar poluído e sentir suas penas voando para longe.
Chegou a terra muito machucado e disse para os homens tudo o que ele podia ver lá de cima e como as cobras chegaram até a segunda camada. Disse também que a única forma das cobras descerem seria tornando o ar insuportável para elas.
- Mas como vamos fazer isso? Perguntaram.
-Vocês terão que mudar suas atitudes mais íntimas, fazer o bem sem esperar retorno e pedir ao grande pai do universo que os proteja.
-Mas é só isso? Disseram uns.
- Parece pouco, mas é tudo - disse o pássaro.
Depois de dada a mensagem o pobrezinho não agüentou o esforço que fez na viagem e morreu.
Muitos homens iniciaram uma batalha silenciosa. Aos poucos, no entanto, o resultado apareceu. O céu estava mais límpido, os homens conseguiam ficar em pé e as cobras mais fracas começaram a cair e rastejar novamente.
Vendo que o plano estava dando certo, as cobras começaram novas investidas contra os humanos, instigando o ciúme, o ego, o orgulho para conseguirem manter-se no alto.
Mas os homens já não eram os mesmos, já tinham o conhecimento da verdade e se firmaram no propósito até que todos estivessem de pé e as cobras rastejando.
Antes de o pássaro morrer, no entanto, ele fez uma alerta:
- Sei que vocês conseguirão reverter a situação de calamidade que este mundo se encontra, mas não se esqueçam que a luta será difícil e longa, exigindo de vocês um crescimento moral diário e constante. Caso contrário, as cobras voltarão a voar...

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