Nunca havia entendido porque os mais velhos gostavam de contar as mesmas histórias. Muitas vezes ouvi-as contrariada e pensava porque estavam relatando-as de novo se eu já havia escutado tantas vezes. Observei a paciência do meu pai com meu avô. Ele ouvia e ouve suas histórias sempre. Em todas elas ele se surpreende e ri como na primeira vez.
Meu avô fica quietinho quando chega a nossa casa, mas ao avistar meu pai seus olhinhos brilham. É que alguém vai ouvi-lo por instantes, vai dar-lhe atenção. E é meu pai quem puxa o assunto: - Seu Manoel conta aquela história da sua infância, quando o senhor teve que correr por um beco escuro!
Vovô muda a fisionomia, parece que fica mais jovem e conta suas peripécias, coisas que já sabemos, mas parece que aquilo é uma fonte de rejuvenescimento. Falar da sua vida, mostrar que um dia também foi tão ágil quanto nós o faz sentir integrado. É a ponte entre sua geração e a nossa. Afinal de contas muitos dos idosos vivem das lembranças do passado, até por não terem a mesma força física dos jovens.
A partir desse papo inicial, vovô fica mais solto, sorridente, participante ativo da festa, mesmo com seu jeito mais tranqüilo. Pára de reclamar das dores, pára de dizer que a velhice é uma droga, sente-se jovem por instantes.
Hoje entendo pessoas que vão visitar asilos e ficam por lá a tarde toda: uns conversam com os idosos, as moças maqueiam ou penteiam as senhoras. Certamente é uma doação de tempo e amor que não custa nada, mas traz energia e vigor para continuar a vida.
Pode parecer que não, mas doar atenção é mais barato e mais precioso do que doar bens ou dinheiro. Claro que uma coisa não exclui a outra.
A caridade moral pode ser praticada por todos nós a qualquer momento. Ouvir simplesmente, sem tentar corrigir, sem dar lição de moral, é de grande valia. Deixem que seus pais e avós falem errado, não devemos mais corrigi-los nessa idade, eles só querem se comunicar e não ter aula de português. Deixem que misturem duas ou três histórias que já conhecemos, deixem que digam como o mundo antigamente era melhor. Façamos a caridade de permitir a eles continuar inseridos na família e se sentindo úteis. Se Deus quiser, também seremos velhinhos e ficaremos felizes aos encontrarmos jovens que nos façam esquecer as limitações da idade.
E quando conseguirmos aplicar esses conceitos no nosso lar podemos levar ao trabalho, à faculdade, onde quisermos. Pensem, por exemplo, que há um grande mérito em ouvir um amigo que sofre, em fazer-se de surdo diante das ironias, em fazer-se de cego para não enxergar coisas desagradáveis, em conformar-se com os defeitos dos colegas sem ter que apontá-los diariamente.
Um bem que fazemos ao outro é um bem feito a todos nós.
Maravilhoso texto!
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