Autora: Rute Rodrigues Sobrinho
Uma menina chamada Fruto do Amor tinha um pai chamado Brasileiro Esforçado. Esse pai se atreveu a estudar tardiamente, já que quando jovem não lhe foi dada essa oportunidade. Ele tinha perto dos trinta e sete anos quando começou uma faculdade privada. Tinha uma esposa, cinco filhos, um salário mínimo, uma bolsa de estudos, contas e muita força de vontade.
Toda vez que a menina pedia um presente, e ela nunca desistia, ouvia sempre a mesma resposta:
-Mãe, a senhora me dá uma Barbie no Natal?
-Dou minha filha, mas só depois que o papai se formar.
-Mãe, eu vou ter uma bicicleta um dia?
-Claro que vai, mas só depois que o papai se formar.
-Papai, eu vi um vestido lindo e ainda era cor de rosa, compra pra mim?
-Compro minha filha, mas tem que esperar eu me formar.
De tanto repetir aquela resposta, a criança imaginou na sua cabecinha o dia da formatura, o pai todo arrumado, cabelos penteados, de terno; a mamãe vestida num longo vermelho, absolutamente maravilhosa. Os dois num grande auditório e de repente chamariam o pai: - Senhor Pai Brasileiro Esforçado!
Imediatamente o pai desceria a escadeira com carpete vermelho, emocionado, suando frio, para receber seu presente por todos aqueles anos de estudo.
Na imaginação infantil de Fruto do Amor, seu pai chegaria ao palco, todos o homenageariam pelo esforço constante, de tantas noites estudando, de tantos momentos roubados da família e diriam:
-Parabéns, Senhor Pai Brasileiro Esforçado! Aqui está seu diploma.
Entregariam a ele, então, um enorme saco vermelho cheio de dinheiro. Dinheiro este que resolveria todos os problemas e compraria todos os presentes; mais, pagaria todo o esforço que ela viu o pai fazer.
Doce ilusão de menina...
A pobrezinha achou que se formar era trazer um saco de dinheiro pra casa. Afinal, tudo o que ela pedia só seria comprado quando o papai se formasse.
Explicaram a ela que aquela era apenas uma porta que se abria, e que viriam outros esforços, novas perspectivas. E ela pensou decepcionada:
-Meu Deus, é assim? Nunca acaba? A gente tem sempre que ficar fazendo coisas?
E eu respondo a Fruto do Amor.
As coisas não acabam, estamos sempre aprendendo, sempre correndo atrás de algo, de autoconhecimento, de conhecimento do outro, de aperfeiçoamento no trabalho, aprendendo a educar os filhos. Na verdade não há um momento na vida que recebemos um saco vermelho, nem mesmo ao final dela.
Posso dizer a ela, no entanto, que os presentes da vida são entregues à prestação. Um dia é a aprovação no vestibular, um curso superior concluído, um emprego, um grande amor, um filho querido, uma casa, uma viagem, um por do sol, uma boa conversa com os amigos.
Não vamos menosprezar os pequenos ou grandes presentes que a vida nos entrega dia-a-dia, eles é que formarão o nosso pacote de conquistas!
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