Outro dia minha sobrinha foi comigo ao consultório de psicologia onde faço minha terapia semanal.
Ela, muito curiosa, perguntou como era a sala, onde eu ficava sentada e fui respondendo a tudo.
Por fim, ela fez uma pergunta que, pela carinha de sapeca dela, devia ser um trunfo, um segredo guardado na manga:
- Titia, ela tem caderno e papel?
- Pra quê? – perguntei.
- Pra anotar tudo o que você fala, ora.
- Não precisa não, fofinha. Ela guarda tudo na cabeça.
- Ah não titia, assim ela nunca vai descobrir o que você tem!
Sorri bastante, porque o intuito não é descobrir o que eu tenho. Eu tenho vida, pais, sobrinhos, emprego, uma vida, problemas, amor, colesterol alto, saudade, computador, facebook, gordura localizada, TPM. Mas acho que ela queria dizer o que tem de errado por eu estar numa psicóloga.
Há um singular encanto nessa procura. A cantora Ana Carolina em uma de suas músicas diz que: “Minha procura por si só já era o que eu queria achar”.
Saber que podemos sempre nos redescobrir já é uma grande descoberta. Procurar saber sobre nós mesmos é um caminho sem fim.
Mesmo porque acho que eu morreria do coração se ela descobrisse tudo sobre mim. Que horror! E agora? E aí? Eu ficaria engessada nesses conceitos descobertos? E a possibilidade de mudar de opinião sobre as coisas, principalmente sobre as pessoas? Pra mim não tem uma coisa mais prazerosa do que conhecer uma pessoa e antipatizar com ela e descobrir que ela é uma pessoa maravilhosa. Que doce engano!
Quando resolvemos nos engessar, perdemos oportunidade de conhecer amigos maravilhosos, um grande amor que só apareceu depois do segundo divórcio, um trabalho diferente, um filho concebido na juventude que ainda não se conhecia. E ainda tem gente que bate no peito e diz: Eu sempre tive essa opinião e não vou mudar. Que pena...
Eu ainda quero mudar muito de opinião, conhecer coisas, amadurecer e mudar as perspectivas de vida quantas vezes for necessário pra que eu seja uma pessoa melhor. Eu não quero parar, me sinto pequena, tenho ainda tanto a aprender que me dá uma pena de viver somente mil anos!
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