sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Os vingadores

Texto de Rute Rodrigues Sobrinho


Na Galáxia Dromus existia um pequeno planeta chamado Ercovitz. Ali vivia uma pequena população ainda em fase de desenvolvimento tecnológico, moral e social. Era costume daquele lugar revidar todo o mal que fosse recebido na mesma proporção, no mínimo.
Em cada época governava um ser escolhido, auxiliado por um vingador. Este deveria ter um porte físico imponente, ser um grande lutador, ter habilidade física e intelectual e possuir boa memória.
Mordaque foi o primeiro e grande vingador daquele lugar. Possuía um forte senso de justiça, dissociado, no entanto, da idéia de amor. Ele colocou rígida ordem nas coisas e intimidou o alastramento do mal naquele lugar.
No começo todos o achavam perfeito, mas com o passar do tempo começaram a pensar que ele era duro demais e que não deixava seu coração interferir nas decisões.
Elegeram, então, o vingador Félix, mais jovem e com idéias revolucionárias. Começava uma nova era.
Félix também tinha um senso de justiça muito aguçado para idade, mas mudou as regras daquele lugar: só o amor, o carinho e a caridade mereceriam revanche a partir de então.
Os maus eram orientados num trabalho meticuloso e cansativo. Já o bem, esse era implacavelmente vingado, agia-se duas vezes com mais amor. As qualidades boas de cada indivíduo eram obrigatoriamente ressaltadas por todos e isso era levado em consideração em uma eventual condenação.
O mal trazia constrangimentos e tristeza, mas perceberam que ignorá-lo e apenas ressaltar as virtudes mudou a disposição e o humor naquele pequeno mundo. Todos os outros planetas elogiavam aquele estilo de vida e faziam excursões para conhecer um mundo tão feliz assim.  
Um dia vingador Félix teve um sonho e contou a todos:
- Sonhei que haverá um dia em que o amor, a caridade e o carinho serão dados independentemente da atitude das pessoas. Não será preciso que necessariamente se haja com amor para recebê-lo de volta, pois isso será utilizado como preventivo de dores e sofrimentos, até que o mal seja extinto. Esta será a terceira geração dos vingadores e nesse dia ninguém mais se lembrará que o mal existiu.
Todos ficaram estupefatos com a declaração de um futuro tão promissor. Aplausos. Alegria. Projetos. Felicidade.
No entanto, alguém no meio da multidão sussurrou baixinho:
-Até parece que somos capazes de tão grande proeza, nós nunca chegaremos nesse patamar de evolução. Do jeito que esse mundo anda? Com tanta destruição e morte? Parece que ninguém mais ama ao próximo!
Outra senhora bem velhinha recordou o discurso do primeiro vingador e pensou:
-Ah, não duvido de mais nada. Houve um dia em que não acreditei que fosse possível a revanche apenas do bem e hoje estou diante desta realidade. A nossa capacidade de mudança e de melhora não tem limites, porque tudo é possível ao que ama!

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