Autora: Rute Rodrigues Sobrinho
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Ilustração: Luciana Meneses Delmonte |
Num mundo distante, existia um local onde os seres que desrespeitavam as ordens eram trancafiados em gaiolas gigantes e permaneciam ali por determinado tempo. Esse sistema queria recuperar esses seres e acreditavam que a ociosidade resolveria tudo, pois parando o corpo, parariam também a mente.
Pix trabalhava como vigia neste local há muitos anos e tinha como certo que nenhum deles jamais poderia mudar.
No seu dia de folga Pix resolveu jogar com os amigos e ganhou um presente encantado. Ao chegar a casa, abriu a caixa e ali havia uma linda bola resplandecente que poderia destruir, a uma só ordem sua, um quarteirão inteiro. Ele logo pensou em destruir a sociedade das gaiolas, porque assim todos ficariam livres de seres como aqueles.
Pix comentou com sua família o intuito de usar o seu presente explodindo a sociedade das gaiolas. Seu sobrinho, no entanto, perguntou-lhe:
-Tio, mas todos lá devem morrer?
-Sim, todos – respondeu sem titubear.
-Mas será que nenhum deles tem solução? O sobrinho insistiu.
-Querido, trabalho ali faz muito tempo e tenho experiência suficiente para lhe dizer que não há nenhum deles que possa se regenerar.
-Tio, mas se existisse pelo menos um que merecesse viver o senhor mudaria de idéia?
-Até parece! Mas se tivesse pelo menos um, o que certamente não há, eu usaria meu presente para outra coisa.
Aquela noite, o menino foi dormir preocupado e pediu ao Ser Supremo daquele lugar que desse poderes especiais ao seu tio para que ele visse além do corpo físico, visse também a alma e as intenções.
O tio voltou a trabalhar e começou a ver coisas que antes ele não via. Parecia que ele tinha poderes especiais, porque agora conseguia enxergar profundamente um ser.
Pix achou tudo diferente naquele lugar. Uns seres tinham rostos monstruosos, enquanto outros eram vítimas de perseguidores invisíveis. Viu também alguns arrependidos, chorando muito; outros pedindo forças às divindades. Notou, por fim, uma luz ofuscante na última gaiola. Ele foi até lá para ver. Ao olhar entre os ferros da gaiola, viu um ser ajoelhado em posição de prece pedindo uma transformação para todos que habitavam ali.
O carcereiro voltou para casa chorando, como ele poderia ter generalizado uma situação que era tão peculiar a cada ser? A vontade de mudar de vida era subjetiva demais para isso!
Falou ao sobrinho:
-Não sei o que aconteceu hoje! Vi coisas profundas sobre cada um dos habitantes da sociedade das gaiolas e mudei de opinião, vou usar o meu prêmio para outra coisa.
-Que bom, tio! Estou muito feliz. Já sabe o que vai fazer com sua bola resplandecente?
-Ainda não – falou.
-Tenho uma sugestão – adiantou-se o sobrinho. O senhor lembra que a sociedade das gaiolas é a única que não consegue ver o por dos nossos três sois? Dois deles ficam escondidos atrás de uma grande montanha rochosa. Por que não explode a montanha?
E assim foi feito. A explosão da montanha permitiu que pela primeira vez todo aquele mundo visse os três sois existentes naquele planeta.
No entanto, Pix nunca mais viu as coisas como antes...
Que legal !! Continue escrevendo, muito interessante suas postagens... Beijos !!
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